quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Mostra exibe universo lúdico de crianças inventivas do Ceará

Mostra exibe universo lúdico de crianças inventivas do Ceará

O pesquisador Gandhy Piorski viajou pelo Ceará para descobrir de onde vem a inspiração de crianças como Pedro, portador de necessidades especiais visuais e auditivas. O garoto de Caririaçu faz brinquedos de sucata e encanta a todos pela habilidade. Seu trabalho é um dos destaques da exposição “Brincadeiros e Brincadeiras”, em cartaz no Memorial da Cultura Cearense a partir de 9 de dezembro

Da pesquisa de Gandhy Piorski sobre os modos de brincar na tradição brasileira, a exposição “Brincadeiros e Brincadeiras - O Brinquedo Tradicional e a Imaginação dos Quatro Elementos” traz o resultado de vivências com crianças de comunidades em todo o Ceará. O pesquisador percorreu sertões, serras e litoral para registrar o imaginário do brincar feito pela criança. A mostra entra em cartaz no Memorial da Cultura Cearense, dia 9 de dezembro de 2008.

A exposição retrata brinquedos e modos de brincar das crianças do interior do Ceará. Essas vivências retomam a sabedoria de gerações anteriores, ao mesmo tempo em que são inteiramente espontâneas. Além dos brinquedos que puderam ser trazidos, o acervo exposto traz projeções e ampliações de fotos e vídeos. Uma dessas projeções retrata meninas fazendo um salão de beleza em meio às flores, enfeitando-se com pétalas. Há também uma instalação que pede a ação do visitante para ser percebida: os monitores do Memorial acendem uma lamparina e as pessoas brincam com as sombras projetadas num lençol de algodão estendido. Outro ambiente convida à contemplação: o visitante senta no banquinho e aprecia as luzes do cinema de lanterna.

Gandhy conheceu crianças que constroem brinquedos à base de vontade e habilidade, já que elas têm pouco acesso a ferramentas e matérias-primas. O pesquisador ajudou a montar pequenas oficinas em alguns dos lugarejos por onde passou. Em Caririaçu, microrregião do Cariri, ele encontrou Pedro Igor Félix da Silva, um menino inventor de 11 anos, que desde os nove faz brinquedos de sucata. O trabalho dele foi registrado por Gandhy e será exibido em vídeos e fotografias, além de uma reprodução da oficina onde o garoto trabalha. Ele tem necessidades especiais visuais e auditivas, e a oficina montada para ele atraiu a companhia e a atenção dos meninos da vizinhança. Igor é um dos personagens mais interessantes e expressivos da pesquisa e deve vir a Fortaleza em janeiro para conferir a exposição.

A pesquisa
Gandhy visitou muitas comunidades rurais onde as crianças ajudam os pais trabalhando na lavoura. A relação com os quatro elementos foi observada nos hábitos comuns dos grupos: as crianças aguardam o dia de ir ao açude; ou as noites de fogueira, quando todos se reúnem... Mas as significações sociais vão além das reuniões. A convivência com os códigos de cada modo de brincar ensina não só os métodos e materiais específicos das brincadeiras, mas também gestos e comportamentos para a vida adulta. Educadores, pais, crianças e interessados em brinquedos de tradições populares têm um rico material a observar.

Gandhy Piorski vem pesquisando os modos de brincar há pelo menos dez anos, tendo viajado por todo o Brasil e morado na Península Ibérica por um ano e meio. O apoio do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, através da Diretoria de Museus, começou ainda na fase inicial da pesquisa. Em 2006, o projeto foi premiado pelo Edital das Artes da Secult. Então, o pesquisador concentrou sua observação no Ceará, viajando por todas as regiões do estado: percorreu os sertões dos Inhamuns, do Cariri e da região do Jaguaribe; a Serra Grande e o Maciço de Baturité; e no litoral, os limites a leste, a oeste e o centro.

Segundo Gandhy, nos brinquedos e brincadeiras cearenses percebem-se tradições de outras regiões do Brasil e mesmo dos povos ibéricos, alguns dos primeiros a colonizar o país.

Os quatro elementos
Em todo o Ceará, meninos e meninas ainda brincam como brincaram seus pais e avós. Inventam e investigam a vida com seus esforços e afazeres, e criam intimidade com a natureza, entendendo os ciclos de vida de animais e vegetais, do chão e do ar.

Entre os brinquedos da terra, até o material de trabalho na lavoura se aproveita. Também as fazendinhas de ossos, as bolas feitas de papo de peru, o faz-de-conta de ser vaqueiro ou dona-de-casa. Tudo isso aproxima a criança da vida em comunidade, bem como da natureza e do território ao seu redor.

Nas brincadeiras com a água, os pequenos aprendem a observar a ação da física, o equilíbrio entre pesos diferentes. O convívio com os recursos hídricos, naturais ou não, forma habilidades particulares: os meninos do litoral aprendem a fazer barquinhos resistentes bem antes dos meninos que moram no sertão.

Para observar as brincadeiras do ar, Gandhy saía com as crianças às cinco da manhã, quando era “tempo de borboleta”. Até no municípío de Maranguape, região metropolitana de Fortaleza, elas ainda brincam de caçar esses e outros pequenos insetos voadores. Amarrando delicadamente uma linha na perna do bichinho, os meninos ganham uma “pipa viva”, e aprendem a leveza dos movimentos precisos para contemplar a vida aérea.

O fogo é para os meninos mais crescidos, mais ágeis, para quem se mostra corajoso e esperto. E não se brinca com faíscas e chamas só nas festas de junho. A brincadeira arriscada e proibida exige habilidade para evitar a punição, que pode vir em forma de queimadura e ainda como castigo dos pais.

(Texto: Roberta Félix)
Serviço: Exposição “Brincadeiros e Brincadeiras – O Brinquedo Tradicional e a Imaginação dos 4 Elementos”, no Memorial da Cultura Cearense. Pesquisa e curadoria de Gandhy Piorski. Abertura dia 09 de dezembro de 2008, às 19h30, no Memorial. Horários de visitação (dezembro e janeiro): de terça a domingo, das 14h às 20h30. Ingressos: R$ 2,00/ 1,00. Aos domingos a entrada é gratuita. Informações: (85) 3488.8621

Arte em Crivo e Jornada de Criação, com Carlos Fajardo

Os projetos Arte em Crivo e Jornada de Criação, do Museu de Arte Contemporânea,
convidam o artista plástico Carlos Fajardo

Carlos Alberto Fajardo nasceu em São Paulo, em 1941. Participou da criação do Grupo Rex, com Wesley Duke Lee, Nelson Leirner, Frederico Nasser, Geraldo de Barros e José Resende. Foi co-editor, com Wesley Duke Lee, do jornal Rex Time. Em 1970, com Baravelli, Frederico Nasser e José Resende, fundou a Escola Brasil. No início de sua trajetória, trabalhou com diferentes técnicas, realizando objetos, pinturas, colagens, desenhos e gravuras. A partir de 1981, expôs trabalhos em pintura. Também dedicou-se à realização de esculturas em que explora questões como peso, gravidade ou sustentação da obra no solo.

O Museu de Arte Contemporânea, do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, convida o artista para participar dos projetos Arte em Crivo, dia 16 de janeiro, e Jornada de Criação, de 19 a 23 de janeiro.

Arte em Crivo
Dia 16 de janeiro, às 19 horas, no MAC
Gratuito

O programa de palestras visa trazer ao público, artistas, críticos e curadores de relevância para a arte local e brasileira numa fala sobre seu trabalho e sua trajetória artística, sempre em consonância com a produção contemporânea. O objetivo é contribuir com a formação crítica e profissional de artistas, pesquisadores e estudantes. A proposta do Arte em Crivo é ainda instigar o público do MAC a conhecer e compreender melhor a reflexão que é feita na construção dos trabalhos de arte contemporânea.

Jornada de Criação - A Instalação e a Fotografia com Carlos Fajardo
De 19 a 23 de janeiro, horário a confirmar
Gratuito

Utilizando a fotografia digital como suporte básico o participante desenvolverá um projeto de utilização plástica de um lugar dentro da cidade. A fotografia poderá ser também veículo final do trabalho.

O Jornada de Criação é um projeto de formação destinado a artistas, estudantes de arte e pesquisadores. São realizadas oficinas e cursos com duração média de cinco dias e com abordagens nos diversos âmbitos e manifestações da arte. Tanto as práticas que envolvem a expressão artística: a fotografia, o desenho, a escultura; como também a crítica, a filosofia da arte, a arte-educação, museologia, dentre outros.

As inscrições para o Jornada de Criação podem ser feitas até 16 de janeiro, através do email: educativomac@dragaodomar.org.br

Breve currículo
Carlos Fajardo é professor no Departamento de Artes Plásticas da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo - ECA/USP. Em 2003, realizou a exposição retrospectiva Poética da Distância, que passou por várias cidades brasileiras, curada por Sonia Salzstein. Esteve presente nas 9a, 16a, 19a e 25a edições da Bienal Internacional de São Paulo, respectivamente em 1967, 1981, 1987 e 2001; ‘Bienal Brasil Século XX’ (1994), também da Fundação Bienal de São Paulo; 38a e 45a edições da Bienal de Veneza, em 1978 e 1993. Participou da mostra ‘Cartografias’, que itinerou pela Biblioteca Luiz Angel Aranjo (Bogotá, Colômbia), pelo Museo de Artes Visuales Alejandro Otero (Caracas, Venezuela), National Gallery (Ottawa, Canadá), Bronx Museum (Nova York, EUA) e La Caixa (Madri, Espanha), em 1993.

Serviços: Arte em Crivo e Jornada de Criação, com Carlos Fajardo

Arte em Crivo
Dia 16 de janeiro, às 19 horas, no MAC
Gratuito

Jornada de Criação - A Instalação e a Fotografia com Carlos Fajardo
De 19 a 23 de janeiro, horário a confirmar
Gratuito

Outras informações: 85.3488.8622