segunda-feira, 4 de abril de 2011

Descartes, o colhedor de almas


Descartes, o colhedor de almas

Publicado em 4 de abril de 2011 
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O Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (Mauc) possui grande parte do acervo de Descartes Gadelha
Tela pintada no lixão do Jangurussu, na década de 80





Um dos mais completos artistas plásticos contemporâneos, Descartes Gadelha, está às voltas com o lançamento do livro infantil "Lenda Estrela Brilhante". Simples e despretensiosa como seu autor, a publicação, premiada no Edital Pontinhos de Cultura da SecultFor, e realizada pela Associação Cultural Solidariedade e Arte (Solar), deu a deixa para o Caderno 3 fazer uma visita ao artista que, há mais de 10 anos, luta bravamente para conviver com o câncer
Foi em uma manhã chuvosa, que o escultor, pintor, escritor, desenhista, músico e nautimodelista, Descartes Gadelha, abriu as portas de seu casarão, que fica ali nas proximidades do Benfica, para receber o Caderno 3.

O mote da conversa foi o lançamento de mais um livro infantil, "Lenda Estrela Brilhante", que narra um pouco da infância desse artista cearense que vem escrevendo o lado feliz da história carnavalesca de Fortaleza.

Judiado por diversos cânceres que não cansam de tirar seu sossego, e que estão impedindo Descartes de exercer uma de suas mais notáveis vocações, a pintura, o artista não se deixa abater.

"Hoje, o mais brincante do Maracatu Solar sou eu. E se o câncer permitisse, eu desfilava em todos os Maracatus. O diabo é que o câncer é danado, mas eu chacoalho ele também. Porque o câncer quer agrado, quer que a gente sofra. Como eu não ligo, e como a brincadeira que está dentro de mim é intensa, a doença, coitada, fica desmoralizada", diz o artista, transbordando de bom humor.

Ao lado da esposa Verônica, dos filhos, Isabel e Leonardo, e dos netos, o filho mais velho das nove crias de seu Diderot e dona Geórgia, nascido e criado no Centro de Fortaleza, aos 67 anos, luta bravamente a favor do tempo. Hoje, a maior parte de sua vida é dedicada às réplicas de barcos à vela, que se espraiam por diversos cômodos da casa.

Nessa entrevista, Descartes partilhou experiências peculiares, dentre elas, o período em que morou no lixão do Jangurussu, no início dos anos 80, das longas e variadas épocas que passou em cabarés, e compartilhou a espiritualidade que vem entrelaçada à longa trajetória de fazeres e saberes que emanam de sua arte.

"Somos responsáveis por aquilo que conquistamos, bem ou mal. Já que não tenho capacidade de amar e fazer o bem, quero fazer o menos mal possível. Minha vida tem sido assim. Entendo que o egoísmo é a manifestação mais poderosa da falta de amor. O amor é tão humilde, tão grandioso, que você não percebe que ele está sendo processado. O egoísmo, ao contrário do amor, é pomposo, poderoso. E não tem como as pessoas escaparem da cobrança desse desequilíbrio", diz o Griô.

"Mas Deus é tão bom, a natureza é tão pródiga, que entende as pessoas que não atingiram a compreensão da vida, seu significado. Nós, como todos os seres vivos, nascemos para amar. Hoje, é só nisso que eu acredito". Saravá, Descartes!

NATERCIA ROCHAREPÓRTER

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